Traumas da infância: um psicólogo reflexiona sobre dependência por atenção, partindo de sua própria experiência caótica, onde receber tapas era comum e se sentia como um coitado, como um fantasma vagante em busca de reconhecimento, e deseja reiniciar seu computador de vida.
Eu me considerava alguém que vivia em uma constante luta para superar obstáculos e adversidades. Meu dia a dia era um cenário de desafios, onde o drama parecia ser meu companheiro constante. Eu não me cansava de repetir que minha vida era um drama contínuo. Era como se eu estivesse preso em um ciclo vicioso, onde o drama se alimentava de minha própria fraqueza.
Os conflitos internos que eu enfrentava eram dramáticos e afetavam todos os aspectos da minha vida. Eu me sentia como se estivesse lutando uma guerra constante contra o meu próprio eu. Meu vício em pensar em todas as coisas ruins que poderiam acontecer comigo era um obstáculo difícil de superar. Era como se eu estivesse preso em uma armadilha, onde o drama era o único que me fazia sentir vivo. Eu precisava encontrar uma maneira de lidar com esses conflitos e sair da minha zona de conforto, ou risco de me perder naquele labirinto emocional.
Um legado de drama
Eu me lembro daqueles tempos como um pesadelo, um drama contínuo que me acompanhava onde quer que eu fosse. Era como se tivesse nascido para criar conflitos, para ser o centro das atenções, para viver em um estado de frenesis emocional. E, para ser sincero, eles estavam certos. Eu achava que o drama era normal, que era a minha forma de sobrevivência. Mas, na realidade, eu estava apenas procurando por uma saída, uma forma de escapar da dor e do sofrimento que me cercavam.
Eu cresci em um ambiente caótico, onde tapas eram distribuídos tão facilmente quanto abraços. Meu pai era um alcoólatra, meu avô um viciado em jogo, e minha mãe, uma mulher forte, mas que também sofria com a dor de viver em um lar infeliz. Eu me sentia como um fantasma vagante, desconectado do meu corpo, sem saber como me sentir ou como encontrar um lugar para chamar de meu. E no entanto, eu me sentia como se estivesse perdido em um labirinto de emoções, procurando por uma porta que nunca existia.
Eu me lembro de ter sido um menino quieto, que se escondia em um armário como um coitado de filme adolescente, tentando encontrar um refúgio da dor e do terror que me cercavam. Era como se eu estivesse preso em um ciclo de violência e medo, sem saber como escapar. E foi então que eu comecei a criar meus próprios dramas, a inventar minhas próprias cenas, a escrever minhas próprias cartas de despedida. Eu queria ser visto, ouvir, ouvir, ouvir, mas não queria ser tocado. Eu queria ser resgatado, levar-me embora de todo aquele caos e sofrimento.
E foi assim que eu comecei a criar minha própria realidade, uma realidade de drama e excitação, onde eu era o centro das atenções. Eu trabalhava como ator, diretor e coreógrafo, e o estresse era constante. Eu me sentia vivo, eu me sentia importante. Mas, ao mesmo tempo, eu estava apenas escondendo a verdade, uma verdade que eu não queria encarar. Eu estava apenas aprofundando minhas feridas, apenas criando mais drama, mais conflitos. Eu estava preso em um ciclo vicioso de dor e sofrimento, e não sabia como escapar.
E foi então que eu conheci meu parceiro, o homem que desencadeou toda a minha dor e disfunção profundamente enterradas. Eu estava preparado para lidar com isso, para enfrentar a verdade. Mas, ao invés disso, eu apenas aprofundei as feridas, apenas criei mais drama e conflitos. Eu estava preso em um ciclo de estresse e dor, e não sabia como escapar. E foi então que eu percebi que o drama não era a minha forma de sobrevivência, mas sim a minha forma de morrer.
Fonte: @ Veja Abril
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