Relatório da EPE, Aneel e TCU aponta custo de construção e operação de obras na tarifa. Considerar custo no corte do governo.
A construção da usina nuclear de Angra 3 promete elevar a conta de luz em 2,9% ao ano. Essa projeção foi feita pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e está presente no relatório final da correição de Moro do Tribunal de Contas da União (TCU).
A determinação do TCU, emitida nesta quarta-feira (10), estabelece que o governo leve em consideração o custo da energia ao decidir sobre a continuidade das obras de Angra 3.
De acordo com a EPE, o custo total da usina nuclear está estimado em R$ 43 bilhões para os consumidores. Esse valor já inclui a contratação de outras fontes de energia no lugar de Angra 3 – em outras palavras, a usina nuclear é mais cara que todas as outras fontes em R$ 43 bilhões.
Por que a energia é tão cara?
Entendendo a alta dos preços dos consumidores
Os custos de conclusão das obras de Angra 3 serão pagos no valor de venda da energia ao mercado regulado – ou seja, aos consumidores das distribuidoras, como o consumidor residencial e rural, além de comércios e empresas menores. Isso significa que haverá um impacto significativo nas tarifas para os consumidores, que terão que arcar com esses custos adicionais provenientes da usina nuclear.
Em 2019, a Eletronuclear contratou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estruturar um modelo de financiamento para a conclusão das obras. O banco também analisa uma estratégia de reestruturação das dívidas de Angra 3. É crucial que o financiamento seja garantido para que as obras possam ser finalizadas e a usina entre em operação, fornecendo energia ao mercado.
A operação de financiamento do BNDES inclui a contratação de serviços de engenharia para a conclusão das obras e o financiamento no mercado – a ser remunerado pela tarifa de energia. No entanto, o modelo ainda não foi finalizado, segundo o TCU, o que pode atrasar ainda mais o término da construção da usina nuclear.
De acordo com o tribunal, seriam necessários mais R$ 19,4 bilhões para concluir a usina. Já o custo de abandono das obras é estimado em R$ 13,6 bilhões. Isso levanta questões sobre a viabilidade econômica e financeira do projeto, pois o custo de continuar as obras é substancialmente maior do que o de abandoná-las.
Construção desde 1981
Um projeto marcado por desafios e interrupções
Angra 3 está em construção desde 1981, mas as obras sofreram várias interrupções por questões financeiras, rescisão de contratos e suspeitas de corrupção. Esses problemas têm impactado significativamente o andamento do empreendimento, causando atrasos e aumentos nos custos de construção.
Em 2020, a estatal Eletronuclear aprovou a retomada do chamado ‘caminho crítico’ da usina – conjunto de obras necessárias para sua conclusão dentro do prazo, previsto para 2029. A usina está com mais de 60% das obras físicas finalizadas. No entanto, apesar das tentativas de acelerar o processo, a conclusão das obras ainda enfrenta desafios que precisam ser superados.
Recentemente, a área técnica do TCU constatou que as obras da usina nuclear estavam em ‘ritmo bastante reduzido’, o que pode impactar o cronograma de conclusão do empreendimento. Isso levanta preocupações sobre os prazos e a eficiência da execução das obras, que precisam ser geridas de forma mais eficaz para garantir a conclusão do projeto.
A conclusão depende da operação de financiamento em estudo pelo BNDES, uma vez que o banco precisa propor uma tarifa de energia que possa pagar o empréstimo. Cabe ao governo decidir se deve continuar as obras ou abandonar o projeto de Angra 3. Este é um momento crucial para tomar uma decisão informada e estratégica em relação ao futuro da usina nuclear, considerando todos os fatores envolvidos.
Na sessão desta quarta-feira (10), os ministros do TCU chegaram a falar em ‘descaso’ por parte do governo. Isso ressalta a importância de gerir adequadamente todos os aspectos relacionados à usina, incluindo questões financeiras, operacionais e estratégicas.
Fonte: G1 – Política
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