Taxas de juros mais altas penalizam papéis de empresas com altos níveis de endividamento. Variação das projeções de crescimento no pacote de cortes do imposto de renda pode afetar estratégias de setores mais alavancados.
Novembro de 2023 vinha se movendo com uma atmosfera de expectativa, uma vez que o índice Ibovespa vinha subindo de forma consistente, refletindo a otimização geral do mercado financeiro. Com o cenário econômico em constante evolução, os investidores estavam ansiosos por mais informações, especialmente em relação ao pacote de cortes de gastos prometido pela equipe econômica do ministério da Fazenda e do Planejamento.
Essa expectativa era refletida no comportamento do Ibovespa, que vinha demonstrando uma tendência de crescimento sustentado, indicando a confiança dos investidores nas perspectivas de curto prazo. Semanas antes, o mercado vinha sendo afetado por especulações e mudanças nas taxas de juros, que influenciavam a dinâmica do mercado de ações. Agora, a atenção estava focalizada nas medidas governamentais, que poderiam impactar os juros e, consequentemente, a bolsa e o mercado em geral.
A Bola de Demolição no Mercado de Ações
O cenário econômico, marcado por uma variação das projeções para os juros futuros, tem sido adverso para as empresas mais endividadas e aquelas com despesas financeiras mais elevadas. A isenção de imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais, incluída no pacote de corte de receita, foi percebida como um ‘jabuti’ que magoou o mercado mais do que os cortes em si.
O anúncio do governo, feito na quarta-feira, e o strike na bolsa brasileira, a B3, no pregão de ontem, trouxeram consequências imediatas. Os papéis das empresas mais endividadas e aquelas que dependem fortemente da concessão de crédito foram penalizados, refletindo a frustração do mercado com a proposta do governo.
A estratégia de explicar melhor o pacote e apaziguar os ânimos, realizada hoje, último dia útil do mês, pelos representantes do governo e líderes setoriais, foi bem-sucedida. O Ibovespa, principal índice da bolsa, que abriu com uma tendência negativa, mudou de rumo e encerrou com uma alta de quase 1%.
O dólar, por sua vez, rompeu a barreira histórica de R$ 6, afetando negativamente as empresas com dívidas no exterior e aquelas expostas a custos cotados internacionalmente na moeda americana, como combustíveis. A expectativa é de que o Banco Central possa dar um passo maior do que o previsto, com uma elevação de até 1 ponto percentual na taxa básica de juros. Isso poderia ser uma pedrada nos papéis mais expostos a crédito e com maior nível de endividamento.
Rafael Lage, da CM Capital, destaca que os setores mais propensos a serem impactados pelo cenário macro são os de construção civil. Ele explica que, além de ser um setor mais alavancado, ele pode sofrer com restrições nas linhas de crédito. MRV e Cyrela, empresas do setor, ficaram entre as maiores quedas do Ibovespa, em novembro.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, acrescenta que a projeção de um longo período de taxa de juros elevada explica grande parte das maiores quedas deste mês. Ele explica que o mercado penalizou as empresas mais endividadas, por conta da perspectiva de pagar mais despesas financeiras. Se elas tiveram vantagens em relação ao ano passado, com despesas financeiras menores, agora há uma perspectiva negativa.
Outro setor que se destaca, de acordo com Lage, é o de aviação, com custos em dólar relevantes, como o combustível utilizado nas aeronaves. Azul e Gol, junto com as empresas de construção civil, foram as mais prejudicadas por conta dos resultados e também por conta de uma desvalorização do real que prejudica muito, considerando que boa parte dos seus custos são em dólar, principalmente combustível.
Fonte: @ Valor Invest Globo
Comentários sobre este artigo