Anúncio do pífio pacote fiscal, após negociações e especulações, é uma aula de desconstruir expectativas: busca por sinais, cenários piores, crescimento sustentável, expansão fiscal, política monetária.
Os governos costumam se esforçar para gerenciar as expectativas dos cidadãos, especialmente em tempos de incerteza. A gestão das expectativas do governo é fundamental para sua credibilidade e eficácia. Uma gestão inadequada pode levar a uma crise de confiança, prejudicando a economia.
Observamos em diversos momentos da história que a gestão de expectativas do governo pode ser um desafio. O governo de Jair Bolsonaro em 2021 é um exemplo notável, quando uma série de decisões tomadas sem considerar as expectativas da população geraram grande descontentamento. A gestão de expectativas do governo de Jair Bolsonaro não conseguiu atender às necessidades da população, levando a perdas econômicas e danos à credibilidade do governo. O impacto pode ser ainda mais forte em períodos de crise, quando a população exige respostas rápidas e eficazes do governo. A gestão de expectativas do governo deve ser feita com atenção e responsabilidade, levando em consideração as necessidades da população e a agenda do governo para garantir a credibilidade e a eficácia.
O Governo e a Conquista da Credibilidade
A ansiedade e o suspense que cercam as decisões do Governo são perceptíveis, especialmente quando a esperança é rejeitada em nome de uma agenda que se desvia da rota da sustentabilidade econômica. O recente pacote fiscal, anunciado após semanas de negociação e especulações, trouxe uma decepção para muitos, revelando um desconstruir das melhores expectativas. Os descrentes argumentam que as medidas são tão ou piores do que o esperado, enquanto os que ainda mantinham a fé caíram em desilusão e buscam explicações para a decepção.
O pacote visa gerar uma economia de cerca de R$ 30 a R$ 40 bilhões por ano, proveniente da redução gradual no ritmo de crescimento das despesas e dos chamados ‘pentes-finos’, algo que o Governo afirma estar fazendo desde sua posse. É importante lembrar que os analistas especializados em orçamento público estimavam uma necessidade de R$ 70 bilhões com um mínimo de R$ 40 bilhões. Ademais, o pacote foi ofuscado e contaminado pela proposta de elevação para R$ 5.000 do limite da faixa de isenção de IR para pessoas físicas, medida de clara motivação política que teve o efeito de um Cavalo de Tróia para a economia.
O anúncio dessa renúncia de receita no meio de um conjunto de medidas para reduzir despesas parece uma escolha confusa. A impressão que se tem é que faltando dois anos para o término do atual mandato, o Governo talvez tenha desperdiçado sua última chance de colocar a economia em uma rota de crescimento sustentável, com inflação em torno da meta e expectativas positivas. O relatório Focus publicado no início do ano indicava inflação em 3,90% no ano, PIB de 1,60%, câmbio de R$ 4,95 e Selic a 9% no final do ano. Já no último Focus, 29/11, somente o PIB evoluiu positivamente, para 3,22%. A inflação está acima do teto da meta, em 4,71%, câmbio em R$ 5,70 e Selic em 11,75%.
Sobre as boas notícias vindas do PIB e desemprego, há um forte consenso entre analistas de que elas se devem ao forte impulso fiscal promovido pelo Governo. Só neste ano, a relação dívida/PIB já acumula crescimento de 4,2%. Como contrapartida desta expansão fiscal, a política monetária tem sido mais contracionista. Parte desta deterioração das expectativas não pode ser imputada exclusivamente ao Governo. Enchentes no Rio Grande do Sul, queimadas no Centro Oeste e aumento do risco Global com as tensões geopolíticas são fatos fora do domínio.
Mas os princípios da boa gestão nos ensinam que quando o mundo conspira contra, o melhor a fazer é redobrar os esforços no que depende de nós. Porém, quando se parte do diagnóstico errado, fica muito difícil de reparar o dano. E este parece o caso aqui. Me parece que o Governo começou a perder a guerra pela credibilidade em abril passado, quando encaminhou Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) em que propôs rever as metas de superavit fiscal de 2025, de 0,5% para 0% do PIB, e de 2026, de 1% para 0,25%. Este fato marcou o primeiro grande choque de reversão de expectativas, advindas da desconfiança sobre a capacidade de gerenciamento do Governo.
A busca-por-sinais de sustentabilidade econômica, no entanto, não parece ser prioridade. A agenda do Governo é dominada por medidas expansivas, como a elevação do teto de isenção do IR, que minimizam o impacto da busca por crescimento sustentável. O cenário atual sugere que a inflação está longe de se estabilizar, com números alarmantes, como o câmbio em R$ 5,70 e a Selic em 11,75%. A expansão fiscal sem uma política monetária contracionista tem sido uma combinação letal para a credibilidade do Governo.
A política-monetária tem sido utilizada como uma ferramenta para controlar a inflação, mas a sua eficácia é limitada quando a expansão fiscal é desenfreada. A busca por crescimento sustentável exige um equilíbrio entre essas duas variáveis, mas o cenário atual sugere que o Governo não tem essa prioridade. Acredita-se que a economia possa enfrentar um crescimento sustentável, mas a credibilidade do Governo está em jogo.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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