Ministro do STF derruba sigilo de depoimentos sobre reuniões entre militares e governo Bolsonaro.
Novos documentos revelados pela Polícia Federal (PF) expõem os detalhes de uma nova tentativa de golpe de estado no Brasil, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), que foram mantidos em sigilo até agora. Segundo os depoimentos, houve reuniões entre militares e a cúpula do governo com o objetivo de minar o Estado Democrático de Direito.
Os depoentes alegaram desconhecimento dos processos em curso e optaram por permanecer em silêncio para não revelar detalhes das ações para abolição do Estado Democrático de Direito. A revelação desses novos documentos levanta questionamentos sobre a possibilidade de uma tentativa para minar o resultado das eleições 2022 e a adesão ao golpe de Estado por parte de membros do governo.
Revelações Chocantes sobre Tentativa de Golpe de Estado em Patamares Altos do Governo
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um dos que optaram por ficar em silêncio em seu depoimento.
Veja, abaixo, o que disseram os depoentes:
General Freire Gomes
Ex-comandante do Exército, Freire Gomes disse à PF que Jair Bolsonaro apresentou a ele e aos outros comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto para instaurar um estado de defesa no TSE e ‘apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral’ de 2022.
Segundo Freire Gomes, ele esteve em três reuniões e viu duas versões da minuta do golpe, cujo conteúdo era semelhante ao da minuta encontrada pela PF em janeiro de 2023 na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Ele afirma que Exército deixou claro a Bolsonaro que não embarcaria em golpe.
Tenente-brigadeiro Baptista Junior
Ex-comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Baptista Jr. disse que relatou ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ser contra as articulações para golpe de Estado e que o ex-comandante do Exército general, general Freire Gomes, afirmou a Bolsonaro que teria que prender o ex-presidente se ele tentasse consumar o plano golpista.
Almirante Almir Garnier Santos
Ex-comandante da Marinha, o Almirante Garnier recorreu ao direito constitucional de ficar em silêncio e não respondeu a perguntas de investigadores, que apuram suposta tentativa de golpe de Estado.
General Theophilo de Oliveira
Em seu depoimento, o então comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter), general Theophilo afirmou que não tinha poder de decisão sobre movimentação de tropas e que respondia a decisões do comandante do Exército, à época o general Freire Gomes.
De acordo com as investigações da PF, em 9 de dezembro de 2022, Theophilo se reuniu com o então presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada e supostamente consentiu com a adesão ao golpe de Estado, desde que o presidente da República assinasse a medida, conforme conversas encontradas no celular do ajudante de ordens Mauro Cid.
O general confirma ter se encontrado sozinho com Jair Bolsonaro no dia 9 de dezembro, quando o presidente ‘desabafou’ sobre o resultado das eleições, mas disse não ter relação próxima com o ex-presidente.
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
Ex-ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio recorreu ao direito constitucional de ficar em silêncio e não respondeu a perguntas de investigadores, que apuram suposta tentativa de golpe de Estado.
Walter Braga Netto
Ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general Braga Netto recorreu ao direito constitucional de ficar em silêncio e não respondeu a perguntas de investigadores, que apuram suposta tentativa de golpe de Estado.
Valdemar Costa Neto
Presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto afirmou que ‘não concorda’ com as suspeitas levantadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, do mesmo partido, sobre a lisura das urnas eletrônicas e do resultado da eleição de 2022.
Também depuseram à Polícia Federal:
- Anderson Torres
- Carlos de Almeida
- Laércio Vergílio
- Coronel Bernardo Romão Correa Netto
- Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros
- Eder Lindsay Magalhães Balbino
- Tercio Arnaud Tomaz
- Guilherme Marques Almeida
- Cleverson Ney Magalhães
Convocados que ficaram em silêncio:
- Jair Messias Bolsonaro
- Ailton Gonçalves Moraes Barros
- Almir Garnier Santos
- Amauri Feres Saad
- Angelo Martins Denicoli
- Felipe Garcia Martins Pereira
- Helio Ferreira Lima
- Jair Messias Bolsonaro
- José Eduardo de Oliveira e Silva
- Marcelo Costa Câmara
- Mario Fernandes
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
- Rafael Martins de Oliveira
- Walter Souza Braga Netto
- Ronald Ferreira de Araujo Junior
Núcleos de atuação golpista
De acordo com a PF, o grupo investigado se dividiu em dois ‘eixos’, ou núcleos de atuação para tentar minar o resultado das eleições 2022.
O primeiro ‘eixo’ era voltado a construir e propagar informações falsas sobre uma suposta fraude nas urnas, apontando ‘falaciosa vulnerabilidade do sistema eletrônico de votação’.
‘[…] discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022’, pontua a Polícia Federal.
O segundo ‘eixo’, por sua vez, praticava atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito – ou seja, para concretizar o golpe.
Essa etapa, de acordo com as investigações, tinha o apoio de militares ligados a táticas e forças especiais.
O Exército acompanha o cumprimento dos mandados ligados aos militares, em apoio à PF.
De acordo com as investigações, se confirmadas, as condutas do grupo podem ser enquadradas em crimes como organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
[Esta reportagem está em atualização]
Fonte: G1 – Política
Comentários sobre este artigo