Ameaça protecionista nova ajuda a resolver impasse e acelera assinatura do União Europeia-Mercosul, criando um mercado comum de US$ 22 trilhões com cadeias logísticas, impacto além da política comercial.
A assinatura do tratado comercial entre a União Europeia e o Mercosul, em 6 de dezembro, marca um divisor de águas na política comercial internacional. A importância desse momento histórico não se limita à conclusão de um processo de negociação, que foi objeto de discussões acaloradas pelo trato ambicioso de questões políticas e comerciais.
Com a assinatura desse tratado, o Mercosul, composto por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, busca fortalecer sua capacidade de negociação e escapar do protecionismo sujeitando-se a regras internacionais, com o objetivo de reduzir tarifas e eliminar barreiras comerciais e facilitar a circulação de bens, serviços e pessoas. A UE, por sua vez, busca expandir seu mercado de consumo, aumentando a oferta de produtos e serviços. O documento também visa reduzir as barreiras comerciais, facilitando o comércio internacional e a integração dos países participantes. Com isso, o Mercosul visa se tornar uma das principais economias do mundo em termos de volume de comércio internacional. Além disso, a assinatura desse tratado também abre caminho para a criação de zonas de livre comércio, contribuindo para o crescimento econômico e a redução da pobreza nas regiões envolvidas. A entrada em vigor desse acordo é prevista para o primeiro semestre de 2024.
Parceria Estratégica entre União Europeia e Mercosul
Além da criação de um mercado comum com um PIB conjunto de US$ 22 trilhões, mais de 730 milhões de consumidores e 90% de produtos isentos de tarifas, a assinatura do acordo em Montevidéu, no Uruguai, teve impacto além das fronteiras dos dois blocos, aproveitando-se da oportunidade de resposta à ameaça de protecionismo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele havia prometido impor tarifas de 10% para todas as importações dos EUA e acirrar a guerra comercial contra a China, movimento que vinha sendo impulsionado pelo crescente protecionismo americano, em especial contra a China, e que desestruturou as cadeias logísticas, fez com que o ciclo de inflação e juros global se acelerasse e trouxe uma desaceleração do crescimento econômico, agravada pela pandemia.
A assinatura do acordo União Europeia-Mercosul tem um significado geopolítico mais importante do que o aspecto comercial, tanto para o Brasil e os países da região quanto para a União Europeia. Segundo o ex-embaixador Rubens Barbosa, da consultoria RB & Associados, o acordo é fechado num momento em que o mundo se vê pressionado pela ameaça protecionista de Trump e diante do acirramento do confronto comercial entre EUA e China. Ele destaca que o Brasil, que faz parte dos Brics, assina uma terceira via com 27 países da Europa, mostrando que não está vinculado apenas aos EUA ou à China e segue caminho próprio, juntamente com os demais países do Mercosul.
Agora, o Mercosul volta a ter posição no cenário comercial global e já ensaia o próximo passo, mirando um acordo comercial com a Ásia. Coincidência ou não, desde a vitória de Trump, o Brasil assinou um acordo comercial com a China e outro com a União Europeia. Mesmo assim, Barbosa não prevê nenhum tipo de reação por parte de Trump, pois ele tem uma visão zero da América Latina e os americanos não têm política para a região, apenas em relação a temas como imigração e drogas.
O desejo de Trump de redesenhar o comércio global sob a régua dos EUA, porém, vinha causando angústia especialmente entre os países da União Europeia, uma vez que o bloco tem nos EUA seu principal parceiro comercial. Com um crescimento econômico europeu pífio desde a pandemia e pressionada por gravíssimas crises políticas internas nas duas maiores potências do bloco – Alemanha e França –, a atual presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, percebeu que era melhor assinar um acordo comercial longe do apoio unânime do bloco, inclusive sob risco de ser barrado na ratificação posterior, a ficar sob ameaça das bravatas de Trump.
Fonte: @ NEO FEED
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