A fragmentação reduziria a força do G20 e pioraria, com a Argentina lançando moda e dissidência.
O multilateralismo, um conceito cada vez mais raro em um mundo onde os interesses nacionais tendem a prevalecer sobre os da comunidade internacional, foi o mote da última reunião do G20, presidida pelo Brasil.
Em meio à crise econômica global causada pela pandemia de Covid-19 e à crescente instabilidade política, como o recente golpe de estado na Myanmar e o governo ditador de Vladimir Putin, o multilateralismo assume um papel crucial para a resolução de problemas que transcendem fronteiras. A presença de Trump na reunião do G20 em 2017 foi um marco negativo para a ideia do multilateralismo, pois o presidente americano fez de tudo para enfraquecer o sistema multilateral e fortalecer os arranjos bilaterais. Com a saída de Trump, a reunião do G20 no Brasil foi uma oportunidade para reforçar a importância do multilateralismo em um mundo cada vez mais complexo, enfrentando desafios como a crise climática e a desigualdade econômica.
O Multilateralismo na Cúpula-Presidida do G20: Uma Fórmula Perigosa
Em todos os anos em que o republicano participou do G20, os Estados Unidos foram inflexíveis e a cúpula terminou sem consenso. Os líderes tiveram de fazer uma declaração no modelo 19 + 1. É um fato alarmante que o multilateralismo esteja em risco de desaparecer, e os países precisam tomar uma posição clara em relação a isso. Todos os países se comprometeram a apoiar as metas do Acordo do Clima de Paris, mas os EUA exigiram um parágrafo à parte, de dissenso, que começava dizendo que os EUA ‘reiteravam’ sua decisão de se retirar do Acordo de Paris porque ele ‘prejudicava os trabalhadores e contribuintes americanos’, demonstrando uma falta de compromisso com o multilateralismo.
Na cúpula de 2019, Trump chegou a fazer uma tentativa de rachar o G20. Ele pressionou o Brasil (então sob seu aliado Jair Bolsonaro), Turquia e Arábia Saudita a se juntarem aos EUA no rechaço ao Acordo do Clima, o que inviabilizaria uma declaração final do grupo. Contudo, com um trabalho de convencimento do presidente francês, Emmanuel Macron, que se recusava a assinar uma declaração sem compromisso climático, esses líderes acabaram apoiando o texto. Isso demonstra que, apesar das dificuldades, é possível encontrar um caminho para o multilateralismo.
No segundo mandato, espera-se um Trump ainda mais refratário a arranjos multilaterais e fortalecido para cooptar outros países. Assim, a dissidência da Argentina neste ano em temas como gênero, taxação de bilionários e agenda 2030 seria um indício de que, a partir do ano que vem, o G20 pode voltar a seu modelo sem consenso, desta vez com EUA e Argentina impedindo acordo. O multilateralismo está em jogo, e os líderes precisam agir para protegê-lo.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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