Estudantes em instituições privadas frequentam aulas trabalhando para pagar, com escala 6×1, na avenida Paulista ou Cinelândia, focados em cursos de graduação por semestre em disciplinas de educação.
Em um tempo em que a realidade está cada vez mais distante da verdade, é fundamental ressaltar que os protestos contra a escala de trabalho 6×1, que gerou grande revolta entre os trabalhadores, marcaram presença nas principais cidades do país. O tempo de espera por decisões e a falta de diálogo entre as partes resultaram em manifestações em locais icônicos como a Avenida Paulista, em São Paulo, e a Cinelândia, no Rio de Janeiro.
Ao refletir sobre o contexto, é possível notar que o trabalho é o principal foco dessas manifestações. Os trabalhadores sentem-se desrespeitados com a escala de trabalho 6×1, que pode levar a jornadas de trabalho exaustivas e impactar negativamente na saúde e o bem-estar. O tempo de descanso e lazer é fundamental para o equilíbrio de vida, mas a adoção desse modelo de trabalho pode comprometer esses direitos. Além disso, é preciso lembrar que o tempo de espera por mudanças pode ser longo, e é fundamental a participação ativa dos trabalhadores em busca de soluções eficazes.
Tempo: O Tesouro Esquecido nos Cursos de Graduação
Nesse período de reflexão, percebi que jovens de comunidades periféricas estão cada vez mais presentes nas aulas da universidade, muitos dos quais estudam em instituições particulares na região metropolitana da capital paulista. Eles sonham em conquistar o tempo necessário para se dedicar à educação de qualidade, mas a realidade é outra.
A escala de trabalho 6×1 é uma das principais barreiras para que esses jovens possam aproveitar ao máximo o tempo que os cursos de graduação exigem. Trabalhando seis dias por semana em shoppings, redes de lanchonetes, comércio e similares, eles escutam constantemente a reclamação sobre a falta de tempo, que é real. Estudar é um luxo que esses jovens periféricos não podem se dar devido à escala 6×1, escravizante.
A vida deles é basicamente composta por: o trânsito, que pode levar quatro horas; o trabalho, que é, em geral, oito horas. Foi metade do dia. Depois vai pra faculdade, que dura três horas, mais ou menos de sete até dez da noite. Foram 15 horas. Nessa conta apertadinha, sobrariam nove horas para fazer outras coisas. Mas, quem mora em São Paulo sabe que não dispõe de nove horas livres por dia.
Falta tempo para o básico, como ler textos indicados pelos professores e fazer trabalhos. Na maioria dos cursos de graduação, são de três a cinco disciplinas por semestre. Aí vem o meritocrata e diz ‘tem que estudar no dia livre, varar madrugadas’. Não tem, embora há quem faça, pelos motivos mais justificáveis do mundo. Sabe qual a utopia? Ter tempo para descansar corpo e mente, ler um livro, ir ao cinema, construir de fato uma formação cultural mínima. Mas nem a formação para a qual a pessoa está se formando é plenamente possível.
E não por dilemas educacionais profundos, complexos, não; simplesmente pela falta de tempo, uma questão cruamente matemática, lógica. Não sei se, dado o eventual passo civilizatório da abolição da escala 6×1, o ensino superior vai melhorar. Mas com certeza o professor poderá cobrar mais, em contexto mais favorável, e poderá, inclusive, rechaçar desculpas esfarrapadas de quem não corre atrás, mas usa a real dificidade alheia para justificar sua inação.
Fonte: @ Terra
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