Periferias dos grandes centros são o povo-pobre, onde a vida e a morte dependem do lado-de-quem você nasceu e vive em uma situação-de-rua, num mundo-rejeitado, onde a maldição dos heréticos é deixar a corrupção.
Em uma cidade como Nazaré, morada de Jesus, o Filho de Deus, era comum ver o povo pobre, em situação de vulnerabilidade. Mas é justamente entre essas pessoas que Jesus se encontrava, em uma demonstração clara de suas raízes. Ele era um homenzarrão, mas não se encaixava em nenhuma categoria social, era Deus em ação, dando atenção às necessidades do povo pobre.
No Brasil de hoje, é fácil ver o espírito de Jesus em uma favela qualquer, onde a desigualdade e a pobreza são reais. E também em pessoas em situação de rua, que são frequentemente esquecidas pela sociedade. O que Jesus fazia há 2.000 anos ainda é relevante agora, e é isso que nos lembra de sua força em se manter focado em servir aqueles em situação de necessidade. Da mesma forma, ele estava em situação de rua na terra, servindo os pobres e necessitados enquanto era Deus em ação.
Jesus, o Deus em Situação, que nasceu na periferia das grandes cidades
A obra do canadense Timothy Schmalz no jardim da Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro mostra Jesus Cristo como morador de rua. ‘Jesus nasceu na Cisjordânia, mas se fosse usar o paralelismo concreto, material, geográfico, ele nasceria na periferia das grandes cidades, um Deus em Rua, na situação de rua’, diz o padre Júlio Lancellotti. ‘Acho que Jesus nasceria lá na Cracolândia, um lugar onde a vida e a morte se encontram, onde os pobres de Nazaré conhecem a maldição de heréticos.’
Os primeiros a saberem do Filho de Deus são os pobres de Nazaré, que até os reis magos, que visitam Jesus com presentes raros, são considerados uma maldição, pessoas de magia, heréticos, que ninguém pode se aproximar. ‘E são eles que vêm, com a vida e a morte de Jesus, um Deus em Situação, que nasceu para ser deixar corrupção, mas que foi condenado sem o devido processo legal’, lembra o padre.
O lado de quem Jesus nasceu, e quem são os verdadeiros crentes
O pastor Leandro Rodrigues cita o evangelho de João, quando o apóstolo Filipe fala de Jesus a Natanael, que pergunta: ‘pode vir alguma coisa boa de Nazaré?’. O Filho de Deus ‘era desacreditado da mesma maneira que a sociedade não acredita nos talentos e nos potenciais de muitos que vivem nas periferias, nos morros, nas favelas, um Deus em Situação que nasceu na periferia das grandes cidades’.
Para o líder da Igreja Inclusiva Habitar, Jesus ‘certamente’ nasceria em um hospital público, em condições precárias, ‘para depois ser criado de forma igualmente precária na periferia, onde seus milagres se manifestariam de maneira surpreendente’, um Deus em Rua que nasceu para deixar corrupção.
Jesus, uma ameaça ao poder romano e americano
André Chevitarese, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que Jesus seria ‘como muitos camponeses simples, paupérrimos, anônimos’, mas que na verdade, ‘por trás da narrativa mítica do nascimento de Jesus se esconde um vocabulário político de violenta resistência aos impérios, principalmente o romano, lá atrás, ou o americano, hoje em dia’.
A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo, como diz Tiago, 1:27. ‘Os sacerdotes, que deveriam proteger e trazer dignidade ao povo, estavam colaborando com os donos do poder’, diz frei David Santos, franciscano, fundador do pré-vestibular Educafro.
Jesus nasceria em uma das três favelas brasileiras onde a situação de rua é crítica
Os três favelas onde Jesus nasceria no Brasil, diz frei David Santos, são Ceilândia, no Distrito Federal; Rocinha, no Rio de Janeiro; e Paraisópolis, em São Paulo. Se ele nascesse em uma delas, com certeza teria sido espancado, torturado e, talvez, abandonado, como muitos que vivem nas periferias, nos morros, nas favelas, um Deus em Situação que nasceu para deixar corrupção.
Fonte: @ Terra
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