A PF suspeita que o software de tecnologia de espionagem foi usado para vigilância ilegal de autoridades e desafetos de Bolsonaro.
A autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para operação da Polícia Federal (PF) contra a ‘Abin paralela’ e busca e apreensão em endereços ligados ao vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem, mostra que, dentre mais de 60 mil acessos, o programa de espionagem First Mile teve acesso a dados de geolocalização de celulares em 21 mil ocorrências.
A utilização do software de análise investigativa First Mile para capturar dados de geolocalização de celulares foi o foco da operação da Polícia Federal que visava desmantelar a ‘Abin paralela’. A ação resultou em busca e apreensão em endereços relacionados ao vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL) e ao ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Decisão judicial sobre o First Mile
A decisão judicial destaca que os dados da ferramenta First Mile analisados ‘demonstram a realização de 60.734 (sessenta mil, setecentos e trinta e quatro), realizadas no período de 06/02/2019 até 27/04/2021, dentre as quais somente 21.309 (vinte um mil, trezentos e nove registros) retornaram as respectivas GEO localizações’.
É importante ressaltar que o número de acessos ao programa para obter os dados não indica necessariamente que essa seja a quantidade de dispositivos móveis monitorados ilegalmente. Segundo apurações do blog da Natuza Nery, cerca de 1,5 mil números de telefones foram alvo de espionagem, dados obtidos pela investigação da Polícia Federal (PF).
A PF suspeita que o software de análise investigativa tenha sido usado para monitorar ilegalmente autoridades e desafetos do ex-presidente Bolsonaro, como ministros do STF, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e uma promotora do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que investigava milícias e as mortes de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Além disso, a constatação da decisão é de que o monitoramento também teve como objetivo favorecer Jair Renan e Flávio em investigações das quais eram alvos. Em entrevista na sexta (26), o senador Flávio Bolsonaro (PL) negou qualquer favorecimento.
O que se sabe sobre o First Mile
Desde março de 2023, o g1 tem tentado contato com representantes da Cognyte, mas a empresa não tem retornado aos nossos contatos. Em seu site, ela diz ser ‘líder de mercado em software de análise investigativa’, mas não apresenta informações do First Mile.
Em maio de 2019, a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate) atestou que a empresa Suntech é a representante e ‘desenvolvedora do VERINT First Mile – Geolocalização Celular Remota’ no Brasil. A Abin não informou se adquiriu o software com a Suntech. O g1 também não conseguiu contato com a representante.
Até aqui, as informações revelam que o First Mile permitia o monitoramento de até 10 mil donos de celulares a cada 12 meses. Bastava digitar o número do contato telefônico desejado no programa, de acordo com ‘O Globo’. A tecnologia localizava aparelhos que utilizam as redes 2G, 3G e 4G.
Segundo a Data Privacy Brasil, além de identificar a localização aproximada dos dispositivos, o sistema era capaz de gerar alertas sobre a rotina de movimentação dos alvos de interesse. Fontes denunciaram que a Cognyte/Verint comercializa todo tipo de ferramenta de espionagem. A partir do número de telefone da pessoa, uma das tecnologias vendidas poderia localizar o indivíduo por meio de torres de celular próximas.
A ‘Forbes’ apontou que, para isso, segundo fontes anônimas, a Cognyte/Verint explora o sistema de vendas de anúncios online.
Fonte: G1 – Política
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