“Veja” expôs conteúdo do depoimento, obtido por O Globo. Ex-chefe confirma reunião e alega ter recebido mensagens sobre o documento; g1 busca ouvir envolvidos.
O ex-chefe do Exército Marco Antônio Freire Gomes confirmou à Policia Federal que o presidente Jair Bolsonaro apresentou a ele e aos outros comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto para instaurar um estado de defesa no TSE e ‘apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral’ de 2022.
Freire Gomes depôs à PF no dia 1º de março, na condição de testemunha, por mais de 7 horas. O teor da fala do ex-comandante aos investigadores foi divulgado pelo site da revista ‘Veja’ nesta quinta-feira (14) e confirmado pelo jornal O Globo. O presidente Bolsonaro está no centro de mais uma polêmica envolvendo o TSE e a legalidade do processo eleitoral.
Apresentação de minuta por Bolsonaro aos comandantes das Forças
A informação sobre a apresentação da minuta por Bolsonaro aos comandantes das Forças Armadas foi antecipada pela colunista Miriam Leitão, da Globo News, em 5 de fevereiro de 2023. Segundo o depoimento do general, o documento foi apresentado aos comandantes das Forças em uma reunião no Palácio da Alvorada em dezembro de 2022. Freire Gomes disse à PF que o conteúdo era semelhante ao da minuta encontrada pela PF em janeiro de 2023 na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.
Primeira reunião com os comandantes
O general afirmou à PF que uma versão do documento foi apresentada em uma primeira reunião entre Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas no Palácio da Alvorada em 7 de dezembro de 2022. Segundo Freire Gomes, ”na referida reunião possivelmente Filipe Martins leu o referido conteúdo aos presentes e depois se retirou do local, ficando apenas os militares, o então ministro da Defesa e o então Presidente da República Jair Bolsonaro.’
Participantes das reuniões
Filipe Martins, ex-assessor da Presidência da República, é um dos alvos da Operação Tempus Veritatis, que investiga a organização de uma tentativa de golpe de Estado. A operação também tem entre os alvos o ex-presidente Bolsonaro, o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, e o ex- ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira — todos mencionados por Freire como participantes das reuniões.
Segunda reunião com os comandantes
Freire Gomes afirmou no depoimento que uma nova reunião foi realizada uma semana depois, no dia 14 de dezembro, também no Alvorada. E uma nova versão do texto foi apresentada — esta, semelhante à do documento encontrado na casa de Torres — ele próprio também alvo da operação. Freire Gomes disse à PF que Torres servia de ‘suporte jurídico para as medidas que poderiam ser adotadas.’ Aos investigadores, o ex-comandante disse que ‘em outra reunião no Palácio da Alvorada, em data em que não se recorda, o então presidente Jair Bolsonaro apresentou uma versão do documento com a decretação do estado de defesa e a criação da comissão de regularidade eleitoral para ‘apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral‘.’
Postura contrária dos comandantes
Freire Gomes disse à PF que, nesta reunião, ele e o brigadeiro Baptista Junior ‘afirmaram de forma contundente suas posições contrárias ao conteúdo exposto’ e disseram que ‘não teria suporte jurídico para tomar qualquer atitude.’ Já o almirante Garnier, segundo Freire Gomes, ‘teria se colocado à disposição do Presidente da República.’
Mensagens de Cid
O ex-comandante confirmou ainda à PF ter recebido mensagens do tenente-coronel e ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid, sobre o tema. Cid fez um acordo de delação com a PF e já prestou depoimentos sobre o tema — incluindo relatos quanto às reuniões agora descritas pelo ex-comandante do Exército. À PF, Freire Gomes disse reconhecer ‘que recebeu os áudios identificados na investigação. Que os áudios procuravam retratar as visitas recebidas pelo então presidente e seu estado de ânimo em relação às medidas que estavam sendo discutidas.’
Fonte: G1 – Política
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