A Agência pode ter usado a ferramenta de espionagem FirstMile para monitorar ilegalmente opositores durante o governo Bolsonaro. Investigação em curso pela Polícia Federal.
Desde o período do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) tem estado em evidência. Agora, a agência está sob investigação da Polícia Federal por suspeitas de uso ilegal de uma ferramenta de espionagem chamada FirstMile. O programa israelense foi adquirido no final do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) e utilizado até maio de 2021, poucos dias antes da posse de Bolsonaro.
A operação ‘Vigilância Aproximada’ levanta a possibilidade de que, durante o governo Bolsonaro, a Abin tenha favorecido a família do ex-presidente com informações privilegiadas, além de ter sido utilizada para monitorar ilegalmente autoridades e pessoas envolvidas em investigações. As denúncias apontam para possíveis abusos de poder por parte da agência de inteligência, reforçando a importância de investigações minuciosas e transparentes acerca das atividades da Abin.
A Operação Contra a Abin
Até o momento, a operação teve dois principais alvos:
- Alexandre Ramagem, deputado federal pelo Rio de Janeiro e que chefiou a Abin de julho de 2019 a março de 2022
- Calos Bolsonaro, vereador pelo Republicanos do Rio de Janeiro e filho de Jair Bolsonaro
Investigação da Abin
A investigação já apontou que há indícios de que a Agência Brasileira de Inteligência tenha atuado ilegalmente em:
- apuração sobre o caso das ‘rachadinhas‘ no gabinete de Flavio Bolsonaro, senador e filho de Bolsonaro
- investigação sobre tráfico de influência contra Jair Renan Bolsonaro, também filho do ex-presidente
- suspeita de que Carlos recebia informações por meio de seus assessores da ‘Abin paralela’
- ações de inteligência para descredibilizar as urnas eletrônicas
- monitoramento de promotora do caso Marielle Franco
- vigilância dos ex-deputados Rodrigo Maia e Joice Hasselmann
- espionagem do ministro da Educação, Camilo Santana, quando ele era governador do Ceará
- suposta ação para associar autoridades a facção criminosa
Descobertas da Operação
A operação também já mostrou que:
- a espionagem ilegal atingiu 30 mil pessoas e os dados foram guardados em Israel
- quatro computadores, seis celulares e 20 pendrives foram apreendidos em endereços de Ramagem (havia um notebook e um celular da Abin entre os objetos apreendidos)
- dez celulares, três computadores, uma arma e um HD externo foram apreendidos na casa de Giancarlo Gomes Rodrigues, que foi assessor de Ramagem
- a Polícia Federal teria apreendido também um computador da Abin com Carlos. O blog da Daniela Lima apurou a informação com uma fonte ligada à operação, mas a PF nega oficialmente.
O Papel da Abin
O que é a Abin? A Agência Brasileira de Inteligência é o ‘órgão central’, responsável por ‘planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de inteligência’ do Brasil. O órgão é chefiado por um diretor-geral, nomeado pelo Presidente da República e aprovado pelo Senado.
‘Abin paralela’: em 2020, durante entrevista ao ‘Roda Viva’, da TV Cultura, Gustavo Bebianno, ex-ministro de Bolsonaro, disse que Carlos Bolsonaro surgiu ‘com o nome de um delegado federal e de três agentes que seria uma Abin paralela’. Bebianno morreu após um infarto ainda em 2020.
Esclarecimentos e Pronunciamentos
O que dizem os alvos: em entrevista à GloboNews, Ramagem negou que tenha cometido irregularidades. ‘Nós da direção da Polícia Federal, policiais federais que estavam comigo, nunca tivemos a utilização, execução, gestão ou senha desses sistemas’, disse Ramagem.
Carlos não havia se pronunciado sobre a operação até a última atualização desta reportagem.
O que dizem os outros citados: também à GloboNews, Flavio negou ter recebido informações da Abin e disse que alegação é ‘absurdo completo’.
Jair Renan não se pronunciou.
Fonte: G1 – Política
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