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Infectologista da Unifesp diz que vacinação e saneamento previnem 750 mil mortes anuais por patógenos resistentes, RAM antimicrobiana e desigualdades em saúde.
Todos os anos, aproximadamente 7,7 milhões de óbitos são relacionados a infecções bacterianas, sendo que 4,95 milhões estão ligados a microrganismos resistentes a medicamentos. Dentro desse contexto, 1,27 milhão de mortes são ocasionadas de forma direta por bactérias que não respondem aos antibióticos disponíveis, destacando a importância da saúde pública na prevenção e controle dessas situações.
As questões de saúde pública se tornam ainda mais evidentes quando observamos os problemas de saúde pública resultantes da resistência bacteriana. É fundamental que medidas eficazes sejam implementadas para lidar com esse desafio crescente, visando garantir a segurança e bem-estar da população diante das ameaças à saúde pública. É preciso um esforço conjunto e contínuo para enfrentar essa realidade complexa e multifacetada.
Desafios na Saúde Pública: Resistência Antimicrobiana e suas Implicações Globais
A preocupante estatística divulgada na renomada revista científica The Lancet ressalta um sério problema de saúde pública que afeta a saúde global de forma silenciosa: a resistência antimicrobiana (RAM). Em uma série de quatro artigos recentemente publicados neste periódico, especialistas de diversas origens argumentam que a RAM está intrinsecamente ligada à alta carga geral de infecções bacterianas e que representa um sintoma das desigualdades globais em saúde, questões que não podem ser resolvidas apenas com medidas voltadas para nações de alto poder aquisitivo.
Entre os pesquisadores envolvidos nesse abrangente estudo, destaca-se a professora Ana Cristina Gales, da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), que realiza uma análise abrangente tanto em escala global quanto no contexto brasileiro sobre esse importante tema. Segundo a pesquisadora, a resistência bacteriana é, sem dúvida, um sério problema de saúde pública em nível mundial. No Brasil, embora ainda não tenhamos um sistema de vigilância totalmente eficaz, houve avanços significativos nos últimos anos.
É possível identificar atualmente os patógenos mais preocupantes e as áreas prioritárias de atuação no ambiente hospitalar, algo que era impensável há uma década atrás. Essa problemática afeta todas as faixas etárias e regiões, desde ambientes hospitalares até áreas residenciais, e inclusive animais e cadeias alimentares. Especialmente em regiões com recursos limitados, onde o acesso a antibióticos eficazes é restrito, a situação se agrava ainda mais. Crianças, idosos e indivíduos gravemente enfermos são particularmente suscetíveis a infecções resistentes.
Em crianças menores de 5 anos, observou-se uma significativa redução de 36% (de 9,9 milhões para 6,3 milhões) nas mortes entre 2000 e 2013, graças aos avanços em sistemas de água e saneamento, programas de vacinação e outras intervenções de saúde pública. No entanto, esse progresso está ameaçado quando os antibióticos não surtem mais efeito.
Um terço das mortes de recém-nascidos é atribuído a infecções, e muitas delas não respondem aos tratamentos disponíveis. Na outra extremidade do espectro, a resistência antimicrobiana complica o tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e câncer. Por exemplo, mais de 25% dos patógenos responsáveis por infecções em pacientes com câncer sanguíneo são resistentes aos antimicrobianos utilizados para prevenir infecções. Essas infecções prolongam as internações hospitalares e elevam os custos de tratamento.
Além disso, os estudos fornecem informações cruciais sobre intervenções e investimentos para orientar a tomada de decisões visando alcançar um acesso sustentável a antibióticos eficazes e acelerar os avanços no combate à resistência antimicrobiana. Também são propostas metas globais alcançáveis para humanos e animais até 2030.
A resistência antimicrobiana é um problema global e multissetorial que também ameaça a segurança alimentar em escala mundial, restringindo nossa capacidade de tratar animais doentes. O uso excessivo de antibióticos na agricultura e a disseminação de antimicrobianos ativos no meio ambiente selecionam linhagens bacterianas que são cada vez mais resistentes aos medicamentos disponíveis. A conscientização e ações coordenadas são essenciais para enfrentar essas complexas questões de saúde pública.
Fonte: @ Veja Abril
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