Apostas em corte ‘jumbo’ nos juros americanos crescem, mas tensões geopolíticas comprimem espaço para movimentações no câmbio, afetando preços, gastos e renda fixa americana.
O dólar apresentou uma retração moderada na sessão desta sexta-feira (27), apesar de o índice dos Preços de Gastos de Consumo Pessoal (PCE) de agosto ter influenciado as expectativas de um novo corte significativo nos juros.
A moeda norte-americana, o dólar, continua a ser um fator importante no mercado financeiro, especialmente em relação ao real. A variação do dólar pode afetar diretamente a economia brasileira, tornando-a mais sensível às flutuações do mercado internacional. A estabilidade da moeda é fundamental para o crescimento econômico.
Flutuações do Dólar e Seu Impacto na Economia
A inflação nos Estados Unidos está em 2,2% anualizado, muito próxima da meta de 2% do Federal Reserve (Fed). Ao final dos negócios, o dólar encerrou com queda de 0,12%, a R$ 5,436, em linha com a desvalorização da moeda em outros mercados. Na semana, o dólar encerrou com queda de 1,53%, incentivada por estímulos à economia chinesa, anunciados pelo banco central chinês e reforçados pelo governo da segunda maior economia do mundo.
Essa notícia beneficia o Brasil, que exporta uma parte significativa de commodities para a China, e, consequentemente, o real. O PCE é o indicador inflacionário favorito do Fed para acompanhar as pressões no mercado. Após o PIB norte-americano surpreender ao vir maior do que o esperado, a incerteza sobre o futuro dos juros havia crescido, mas agora começa a aliviar, conforme as apostas voltam a migrar para um novo corte jumbo (de 0,5 ponto percentual) nas taxas de juros em novembro.
Expectativas do Mercado e Impacto no Dólar
De acordo com a ferramenta do grupo CME de acompanhamento das expectativas do mercado financeiro para os cortes de juros, atualmente, 54,7% dos investidores apostam num novo corte de meio ponto, o que levaria as taxas ao intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. Cortes mais agressivos promovidos pelo Fed tornam a renda fixa americana menos atraente a investidores, portanto, menos capital flui para esses ativos. Assim, não só o dólar perde força globalmente, como outras moedas se fortalecem, conforme parte desses recursos flua para outros mercados.
E aí entra o Brasil. Em meio a sinalizações do nosso Banco Central (BC) de que as pressões da ponta fiscal e do mercado ainda não permitem os diretores de política monetária sonharem com um alívio nos apertos, o mercado passa a embutir mais prêmio para a Selic. Ou seja, a renda fixa local está mais atraente (com os juros mais altos), o que faz com que ela esteja bem cotada no mapa global dos investidores entre ativos alternativos para alocar seus recursos. Com isso se concretizando, o real se fortalece ante outras moedas.
O Dólar e o Cenário Geopolítico
Mas por que o dólar não pegou impulso hoje? Apesar de o cenário econômico dar alguma margem para o enfraquecimento do dólar, o cenário geopolítico reduz essa lacuna. Estamos numa sexta-feira, ou seja, pelos próximos dois dias, as bolsas estarão fechadas. Como pano de fundo, vemos o acirramento das tensões no Oriente Médio, com os conflitos entre Israel, Líbano e Hamas, além da continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia. Cabe lembrar que o dólar é um ativo defensivo para carteiras de investimentos por ser uma das reservas globais de riquezas. Ele e o ouro, que bate recorde atrás de outro há dias. O petróleo, que poderia ser uma alternativa ao dólar, está pressionado pelas incertezas sobre a demanda global.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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