Imprensa e religião espalharam a confusão sobre o morro e a favela que nele existe, atribuindo o nome histórico “Morro-veio” à favela, quando na verdade ele se refere ao morro, construído em década-1930, com uma possível origem no século-17, e localizado na região-17.
Origem do nome de Santa Marta é fruto de uma confusão territorial. O morro e a comunidade foram batizados em homenagem a dois padres, uma mãe e uma santa, mas as informações oficiais sobre a origem do nome são confusas e não há uma certeza absoluta sobre quais figuras foram homenageadas.
Em 2007, o prefeito da época, César Maia, emitiu um decreto para esclarecer a confusão e estabelecer a origem correta do nome, mas a medida não teve o efeito desejado. A confusão persiste até hoje, mascarando a desordem histórica da favela e a necessidade de uma abordagem mais rigorosa para preservar a herança cultural da comunidade. A falta de esclarecimento sobre o nome de Santa Marta é um exemplo de desconcerto que afeta a identidade da comunidade, tornando-se um desarranjo que precisa ser resolvido.
Desentranhando a Confusão Histórica
Para entender a confusão entre Dona Marta e Santa Marta, é preciso mergulhar nas profundezas da história da comunidade. A região sul do Rio de Janeiro é palco de uma rica narrativa que envolve padres, mães e santas. O morro veio primeiro, claro, e Dom Clemente José de Mattos era o proprietário dos terrenos naquela região, no século 17. Ele batizou o local em homenagem à sua mãe, Marta Figueira de Mattos, a dona Marta, que ficou sendo o nome do morro. Essa é a raiz da confusão, mas a história não para por aí.
Cria da favela se torna engenheiro mecânico e faz pós-graduação
Rocinha volta a ser a maior favela do Brasil, diz IBGE
3 orações para o dia de Santa Marta
A confusão histórica se aprofunda quando outro padre, três séculos depois, na década de 1930, ‘batizou’ a comunidade que começava a se formar, homenageando Santa Marta. Segundo a tradição católica, ela recebia Jesus Cristo em sua casa. Nessa pequena capela erguida no alto do morro, que abrigava a imagem da santa, o padre Veloso tornou Santa Marta a padroeira da favela. A desordem havia sido criada.
A confusão desse tipo levou o então prefeito César Maia a fazer um decreto estabelecendo os nomes e as diferenças. A comunidade se sentia desconcertada com a falta de respeito à sua história. Uma entrevista com Itamar Silva, 68 anos, cria da favela Santa Marta e fundador do Grupo Eco, desvenda a perturbação. Ele explica como a confusão surgiu e por que ela é tão importante. ‘Todas as vezes que eu ouço as pessoas se referirem a Dona Marta eu fico indignado porque, na verdade, é uma tentativa de apagamento da história da própria localidade’, assinala. ‘Desde que a favela começou, no final dos anos 30, ela é a favela de Santa Marta. Eu não estou negando o nome do relevo, do morro, do mirante, mas a história da favela, desta comunidade, está ligada ao exercício de nomear o lugar juntamente com as pessoas’, destaca Itamar.
A década de 1930 foi um marco na formação da favela. A criação da capela Santa Marta e sua designação como padroeira sinaliza que a favela está ligada ao exercício de nomear o lugar. ‘Quando o padre Veloso, lá no alto, faz a capela Santa Marta e diz, como na Bíblia, que Marta recebeu Cristo na sua casa, aqui também vai ser o lugar do repouso de todos, do acolhimento. Essa explicação, para mim, faz muito sentido e tem a ver com a história da própria favela’, destaca Itamar.
A disputa pela confusão não se trata apenas da imprensa, mas também da narrativa evangélica. ‘A partir dos anos noventa, a disputa se deu em relação à narrativa evangélica, de não querer citar o nome de Santa Marta. Então a gente começou a travar, internamente, uma disputa com todas as denominações evangélicas, para dizer que o nome da favela não tem nada a ver com as opções religiosas’, destaca o ativista.
A confusão entre Dona Marta e Santa Marta se aprofunda, revelando uma rica história e a importância de nomear o lugar juntamente com as pessoas. A comunidade se sente desconcertada com a falta de respeito à sua história, mas continua a lutar por seus direitos. A discussão sobre a confusão é um lembrete da importância de preservar a história e a identidade das comunidades.
Fonte: @ Terra
Comentários sobre este artigo