Um desequilíbrio mínimo nas níveis econômica pode causar deslize no convívio e desdobramentos perigosos.
Estava refletindo sobre minha coluna neste final de semana, qual tema tratar: o desequilíbrio económico no Brasil, as causas das sucessivas surpresas inflacionárias no país e a dicotomia entre a atividade econômica forte e níveis de endividamento das famílias que não dão trégua.
Em meio a essa reflexão, um parente próximo, de 79 anos de idade, sofre um deslize na escada do quintal da sua casa e tem um leve desmaio. Nesse momento, percebi que o desequilíbrio no mercado financeiro pode levar a perdas significativas e, mesmo com juros reais acima de 7%, a atividade econômica ainda é forte. E é nesse ponto que eu questiono: qual é o mínimo de desequilíbrio que é necessário para que a economia comece a se refletir na atividade financeira do país?
Um Lembrete de Desequilíbrio no Pacote Fiscal
Tendo transcorrido o susto inicial, a avaliação foi de lesões leves na cabeça e nos cotovelos. Se o indivíduo tivesse 40 ou 60 anos, provavelmente teria se recuperado em casa com um descanso moderado até que as coisas voltassem ao normal. Contudo, os aspectos da idade avançada de 80 anos impõem alterações significativas, tornando qualquer desequilíbrio ou deslize, por mais pequeno que seja, motivo para uma investigação detalhada das causas e dos desdobramentos potenciais. Dessa forma, após quatro horas de internação em um hospital, realizaram-se investigações extensivas, incluindo exames de sangue e urina, pressão arterial, Raio-X do tórax, e tomografia da cabeça, visando confirmar que se tratava apenas de um desequilíbrio mínimo, sem consequências mais graves.
O Desequilíbrio Fiscal e os Mercados
Esse episódio me fez refletir sobre a situação atual do país, especialmente em relação ao pacote fiscal do governo e ao debate contínuo sobre o montante e o formato mínimo necessário para acalmar os mercados e demonstrar responsabilidade com a situação fiscal. Um ajuste de R$ 30 bilhões seria suficiente? A necessidade de um sinal para além de 2025? Mesmo se o ajuste não vier apenas de cortes de gastos estruturais, ainda seria suficiente? Todos esses questionamentos estão relacionados à ansiedade extrema ao tema, que está associada à proximidade do país com os 80% de dívida bruta sobre o PIB, um nível considerado crítico para a estabilização da dívida e, por consequência, da economia de um país emergente.
Convívio entre Desequilíbrio Fiscal e Inflação
A combinação do desafio dos 80% de dívida bruta com uma das maiores taxas de juros reais do mundo, acima de 7%, e inflação sistematicamente acima da meta estabelecida pelo Banco Central, impõe um custo elevado de financiamento da dívida no curto prazo, adicionando outros três a quatro pontos percentuais de PIB ao ano à dívida já elevada, a depender do crescimento do PIB a cada período. A situação é semelhante à de um idoso com pressão arterial alta e diabetes, que agora precisa de uma dieta altamente restritiva para se manter estável, com a necessidade constante de sacrifícios para voltar aos níveis satisfatórios quando surge um novo sinal de alerta.
Fortalecendo as Bases
Preventivamente, a única forma de enfrentar esse desafio dos 80 de maneira segura e consistente é com o fortalecimento das bases, para que não haja um deslize para o desequilíbrio fiscal. Isso significa cortes de gastos estruturais e uma mudança na política fiscal para evitar o desmaio econômico. Além disso, é fundamental manter um mínimo de responsabilidade fiscal e cautela em relação aos gastos, para evitar os desdobramentos negativos que podem surgir de um desequilíbrio fiscal.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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