40% motoristas e entregadores se identificam como direita ou extrema direita, segundo pesquisa.
Em 1980, surgiu no Brasil um novo partido político que pretendia representar todos os explorados pelo sistema capitalista. O PT foi lançado com um manifesto que propunha uma mudança radical na política brasileira, visando dar voz aos mais necessitados.
Esse novo partido tinha como objetivo representar categorias profissionais exploradas, como os operários industriais, os assalariados do comércio e dos serviços, os funcionários públicos, os trabalhadores autônomos, os camponeses e os trabalhadores rurais. O Partido dos Trabalhadores almejava ser a expressão política de todos os trabalhadores oprimidos no país.
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Motoristas de aplicativos: o desafio do PT
Em sua quarta gestão federal, o PT se depara com uma nova realidade: os motoristas de aplicativos e entregadores de comida, considerados os novos explorados do capitalismo. No entanto, a tarefa de dialogar com esses profissionais não se mostra tão simples quanto o partido esperava.
Segundo o blog, um novo fenômeno político desafia o PT atualmente: o surgimento de uma parcela expressiva de jovens que se identificam com a direita. Uma pesquisa feita pelo Datafolha em parceria com as empresas Uber e Ifood revelou que 40% dos entrevistados se posicionam como de direita ou extrema direita, em comparação com apenas 20% que se identificam com a esquerda.
Além disso, verifica-se que os motoristas e entregadores não são sindicalizados e mostram resistência em se vincular a sindicatos, rejeitando a tradicional representação política. Esses trabalhadores também revelaram em uma pesquisa que confiam mais na polícia do que em sindicatos e partidos políticos.
Outro desafio para o PT é o fato de que a igreja, uma instituição com alta credibilidade, não é mais um canal de comunicação do partido com as massas, principalmente as igrejas evangélicas.
É evidente que o mundo mudou desde a fundação do PT na década de 80. Hoje, o capitalismo é diferente e as relações de trabalho se transformaram drasticamente, com o surgimento de aplicativos que substituíram a fábrica. O posicionamento do PT também evoluiu: de partido que pregava a substituição do capitalismo pelo socialismo, no exercício do poder mostrou-se social democrata.
No entanto, a maior mudança se deu entre os chamados explorados, que agora rejeitam esse rótulo e se veem como seus próprios patrões. Eles valorizam a autonomia e a liberdade, recusando-se a abrir mão delas mesmo para obter direitos sociais.
Os desafios do PT para representar os motoristas e entregadores
Diante desse cenário, o PT se vê diante do desafio de representar esses trabalhadores, que não se identificam com as bandeiras da esquerda e valorizam sua autonomia e liberdade. A Secretaria de Comunicação do partido reflete essa mudança na abordagem do projeto de lei que garante benefícios sociais a motoristas de aplicativos, utilizando termos como ‘autonomia com direitos’ e ‘liberdade com garantias’, em oposição aos termos tradicionais como explorados e trabalhadores.
O PT espera, assim, conseguir dialogar e representar esses profissionais em uma nova era do capitalismo, em que a ideia de ser ‘a real expressão política de todos os explorados pelo sistema capitalista’ perdeu significado diante da autonomia e liberdade valorizadas por esses trabalhadores. Os desafios são muitos, mas o PT busca se reinventar para atender às demandas dessa nova categoria de profissionais.
Fonte: G1 – Política
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