Desafios acadêmicos geram disputas paralelas, como jogos esportivos, entre universitários que se reafirmam por critérios financeiros, étnicos ou intelectuais. Ofensas étnicas ou de deficiência são consideradas criminosas, como usar vassouras em jogos jurídicos.
A luta de classes é uma das realidades mais contundentes na sociedade brasileira, onde a desigualdade econômica assume a forma de disputa para obtenção de melhores oportunidades de desenvolvimento, tornando-se ainda mais evidente em ambientes universitários. Nesse contexto, os estudantes se encontram em um conflito constante com a sociedade que os rodeia, com uma grande maioria enfrentando dificuldades financeiras em seu dia a dia, enquanto uma elite privilegiada se beneficia do sistema de ensino público.
A prática de jogos universitários, por exemplo, tornou-se uma espaço de luta de classes, onde os estudantes, muitas vezes, se veem forçados a se defender diante de torcedores que os discriminam e preconceituam por não terem condições financeiras de frequentar a universidade ou por estudarem em instituições menores, em comparação com a maioria dos outros competidores. A luta pela igualdade é um direito inalienável, e deve ser trabalhada e fortalecida durante os jogos universitários.
Conflitos de classes e desigualdade permeiam o mundo do esporte
Na era moderna, nos estádios universitários, a luta de classes ainda faz parte da rotina. É um jogo de poder e status, onde a elite econômica e social se encontra com os que lutam para sua inclusão. Em Vassouras, RJ, o jogo jurídico da última edição foi marcado por uma provocação que parece ter sido pensada para chocar: antes do início, alunos de uma faculdade particular do Rio espalharam notas falsas pela quadra, como uma afirmação de poder. A estudante de direito Thamires Soares, aprovada por cotas na Uerj, lembra que aqueles que não tinham os mesmos recursos financeiros, como ela, eram excluídos da universidade pública por muito tempo. Agora, com a inclusão, sentem-se desconectados do ambiente universitário. ‘Refere o sentimento de não pertencimento’, diz Thamires, reforçado pelas palavras e ações daqueles que se sentem acima da lei.
Em jogo universitário, a disputa é frequente, e a violência verbal não é incomum, muitas vezes perpetuando a desigualdade social e econômica. A naturalização da violência verbal nos jogos universitários precisa ser rompida, defendem os especialistas. A rotina de bebida alcoólica e privação de sono, típica de jogos universitários, inflama ainda mais as intrigas. Em alguns casos, as provocações são criminosas, como quando cascas de banana são jogadas em campo. A luta de classes sempre existiu no esporte moderno, explica o pesquisador Felipe Tavares Paes Lopes, professor da Unicamp e pesquisador da violência no futebol. O que acontece nos jogos universitários segue a mesma lógica já observada na origem dos esportes modernos.
O futebol emerge de uma luta de classes entre professores e alunos na Inglaterra do século XVIII e XIX. Os docentes vinham de classes sociais inferiores, enquanto os estudantes das escolas públicas eram da elite, da aristocracia. Era uma competição extremamente violenta, e o controle da disciplina na escola era difícil, por causa dessa estratificação da sociedade. A competição se transformou em um jogo de força, onde as vassouras eram armas de escolha. O jogo se espalhou, deixando um legado de conflitos e desigualdade.
Em outro jogo, o rugby, uma divergência por questões financeiras acabou levando à criação de duas ligas diferentes: uma para times da aristocracia e outra para times de classe média e baixa. Cada uma tinha seus próprios jogos e regras, mas a disputa e a paralela competição não pararam de crescer. Em alguns casos, as provocações foram criminosas, como quando cascas de banana foram jogadas em campo. A luta de classes sempre existiu no esporte moderno, e sua influência pode ser vista em muitos jogos e competições. O que acontece nos jogos universitários segue a mesma lógica, e é preciso garantir que os responsáveis enfrentem as consequências de seus atos.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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