Valor médio de reparo é de R$ 280, mas 14% pagaram mais de R$ 500. Entidade quer incluir direitos à reparabilidade no Código de Defesa do Consumidor e assistência técnica para produtos eletrônicos mais afetados.
Os custos elevados ao reparo de produtos eletrônicos e eletrodomésticos são a principal razão para que os brasileiros desistam de consertá-los. Segundo uma pesquisa realizada pela Proteste, 66% dos entrevistados preferem abandonar os produtos danificados ao invés de gastar dinheiro com os custos elevados de reparo.
Os custos de reparo de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos podem ser elevados e esconder outros custos, tais como os custos da mão-de-obra e os custos de peças. Além disso, os consumidores podem não ter conhecimento sobre seus direitos ao reparo, o que pode tornar o processo mais complicado. Em alguns casos, os produtos podem ser considerados obsoletos e não ser mais economicamente viável ao reparo, o que pode levar a direitos de indenização. No entanto, a desistência em consertar produtos danificados pode ter consequências ambientais e econômicas negativas, pois aumenta a demanda por produtos novos e contribui para o custo e a reparos de produtos.
Custos elevados afetam decisões de reparo e compra de aparelhos eletrônicos
Nove em cada dez consumidores brasileiros (89%) já foram forçados a levar seus aparelhos eletrônicos para a assistência técnica, mas se deparam com custos exorbitantes, mesmo em produtos que poderiam ser reparados. O valor médio de um reparo no Brasil é de R$ 280, mas 14% dos consumidores já pagaram mais de R$ 500 para consertar um produto, o que os deixa com a sensação de que a opção de reparo é inviável.
Regulação para direitos ao reparo de aparelhos eletrônicos
Diante desse cenário, a Proteste, entidade de defesa do consumidor, reforçou sua posição de trabalhar pela inclusão de direitos ao reparo de aparelhos eletrônicos no Código de Defesa do Consumidor. A entidade participou do Euroconsumers Fórum 2024, evento que abordou a questão do direito ao reparo de aparelhos eletrônicos e equipamentos.
Produtos mais afetados pela falta de reparos
Entre os produtos mais afetados por essa falta de reparos, os aparelhos celulares se destacam, com 76% dos consumidores já tendo precisado levar seu aparelho para conserto. Seguem-se os computadores (32%) e as televisões (18%), como os produtos que mais precisam de reparos. Mas os altos preços cobrados pelo conserto, a rápida defasagem dos modelos e a dificuldade de encontrar assistência técnica especializada autorizada pelo fabricante jogam os brasileiros para um ciclo consumista.
Consumidores optam por trocar em vez de reparar
A pesquisa mostra que 24% dos consumidores acabam trocando seus celulares por problemas que poderiam ser resolvidos com reparo, como aparelhos antigos ou com problemas gerais (18%), baixa duração de bateria (10%), lentidão (8%) e até mesmo tela quebrada (2%). Apenas 7% escolhem efetivamente consertar seus dispositivos, e outros 12% consideram o reparo dependendo do custo. A dificuldade em encontrar peças de reposição, especialmente para produtos como celulares, é uma questão para 31% dos consumidores.
Sustentabilidade e mercado de aparelhos usados
No Brasil, apenas 3,3% de um mercado de R$ 81 bilhões em compra e venda de celulares representam as transações de aparelhos usados, o que traz a questão da sustentabilidade para a discussão. Em mercados mais maduros, como nos Estados Unidos, as vendas de aparelhos usados representam 26% do mercado, aponta Daniel Arbix, diretor jurídico do Google, envolvido na discussão como fabricante do sistema operacional Android.
Dificuldade de acesso a centros de assistência técnica
Outro desafio é a distância dos centros de assistência técnica, um problema que dificulta o acesso a consertos para 63% dos consumidores, especialmente para consumidores que residem longe das áreas urbanas centrais. A pesquisa foi realizada entre outubro e novembro de 2024 com 500 consumidores de diferentes regiões do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Inclusões no Código de Defesa do Consumidor
A Proteste advoga pela evolução do Projeto de Lei nº 805/2024, apresentado pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), que trata do direito ao reparo de aparelhos eletrônicos e equipamentos. Durante o evento, a associação informou que vai reforçar essa agenda junto ao governo no ano que vem. De acordo com a entidade, a falta de peças acessíveis e o custo elevado dos reparos desses produtos no Brasil fazem com que muitos consumidores acabem optando por um produto novo, mesmo quando o conserto seria mais sustentável. ‘Essa discussão nos coloca 34 anos atrás [para 1990, quando foi criado o Código de Defesa do Consumidor], porque o que está em jogo é o direito de escolha do consumidor’, afirma a entidade.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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