Vitória de Trump coloca pressão sobre o governo federal para anunciar corte de gastos fiscal e ajustes protecionistas para estabilizar a economia global.
O clima de incerteza que cercou a eleição no ano passado nos Estados Unidos voltou a ser notado em nossa moeda de cambio no início da semana. Os analistas e agentes do mercado financeiro ficaram alertados com a confirmação da vitória do candidato republicano Donald Trump na eleição presidencial.
Alguns especialistas já começaram a discutir a possibilidade de uma possível retração da economia dos EUA, o que pode afetar também o Brasil, por meio da alteração das taxas de juros. Um dos pontos que foi destacado pela imprensa norte-americana foi a dificuldade de Donald Trump em encontrar um bom ministro da economia, que é fundamental para que o país possa seguir em frente.
Eleição de Trump: a reviravolta que afeta a economia global
A escalada da moeda americana, uma tendência que não se limita apenas aos Estados Unidos, é fruto da expectativa de implementação das políticas protecionistas prometidas por Donald Trump antes da eleição presidencial. A medida de aumento de impostos para a importação de diversos bens e serviços nos EUA, além de outras medidas, tem o potencial de impactar a economia interna e global no médio prazo. O aumento do déficit fiscal e a elevação das taxas de juros nos EUA são fatores que contribuem para a valorização do dólar em relação a outras moedas, como o iene japonês, o dólar australiano e o euro. A alta do dólar em 1,8% em relação ao iene japonês, 1,1% contra o dólar australiano e 2,1% contra o euro é um exemplo disso.
A eleição de Trump, portanto, teve um impacto significativo na economia brasileira, à medida que jogou mais pressão sobre o pacote de corte de gastos que a equipe econômica está preparando para preservar as metas do arcabouço fiscal para 2025. Além disso, os efeitos previstos no cenário global com a vitória de Trump, com sua agenda protecionista, abrem uma nova frente de preocupações com o impacto na condução da política fiscal brasileira. O governo, que aguardava o resultado da eleição americana e da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que aumentou em 0,5 ponto percentual a taxa Selic, para 11,25% ao ano, deve agora ampliar os cortes no novo cenário.
Economistas consultados admitem que a vitória do candidato republicano na semana em que o governo deve anunciar ajustes fiscais há muito esperados pelo mercado não ajuda a melhorar as expectativas para 2025. Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, afirma que há consenso de que a gestão Trump tende a ser inflacionária, porque combina expansão fiscal, fechamento comercial e controle de imigração. Esse combo, segundo ele, limita espaço para queda de juros e dificulta a vida dos bancos centrais em todo o mundo, incluindo o brasileiro.
Com isso, aumenta o cenário de aversão a riscos, com menos fluxos para mercados emergentes. Neste aspecto, prejudica o Brasil. Num cenário global tranquilo, o governo poderia fazer um ajuste fiscal gradual, em etapas e sem muita pressa, mas a vitória republicana coloca pressão para que o ajuste seja feito mais rapidamente. Padovani observa que essa pressa existe porque uma das vulnerabilidades atuais da economia brasileira é a tendência de alta da dívida pública, que passará também a ser alimentada pela expansão fiscal do governo Trump.
Na prática, o governo vai precisar entregar mais do que quisesse fazer. Assim como o economista-chefe do BV, muitos analistas acreditam que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, teria menos espaço para reduzir as taxas de juros em comparação ao cenário hoje desenhado. Os juros mais elevados tendem a valorizar o dólar e, por tabela, nos trazem uma nova oportunidade de reflexão sobre a economia global e o papel da política fiscal no cenário brasileiro.
Fonte: @ NEO FEED
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