O tarifaço e a falência da diplomacia brasileira


O encontro entre o presidente Lula e Donald Trump durante a Assembleia da ONU, seguido de uma conversa por telefone e da reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano Marco Rubio, trouxe sinais de distensão na crise comercial entre Brasil e Estados Unidos. Foram gestos importantes, mas tardios. A diplomacia brasileira demorou a reagir ao tarifaço que surpreendeu o país e expôs a falta de coordenação nas relações bilaterais.

O governo preferiu inicialmente sustentar o discurso de que as tarifas de cinquenta por cento seriam uma forma de pressão política, vinculada à questão da anistia aos envolvidos nos acontecimentos de oito de janeiro. Essa leitura deslocou o debate do campo técnico para o campo ideológico, e o resultado foi um vazio diplomático. Enquanto o governo se ocupava de narrativas, o diálogo com Washington perdia tempo e profundidade.

Foi nesse vácuo que empresários brasileiros se tornaram, na prática, os primeiros negociadores. Representantes de grandes setores produtivos e de entidades da indústria e do agronegócio agiram com a serenidade que o momento exigia. Buscaram seus pares norte-americanos, intermediaram conversas, abriram portas e demonstraram que o comércio não deve ser contaminado por disputas políticas. Essa articulação privada, silenciosa e pragmática, teve mais efeito do que semanas de discursos oficiais.

O gesto dos empresários acabou forçando o governo a sair da inércia. A retomada do contato direto entre os presidentes e a abertura de um canal mais fluido entre os chanceleres só ocorreram quando ficou evidente que o prejuízo econômico começava a se alastrar. A diplomacia brasileira, tradicionalmente reconhecida pela sua capacidade de antecipar crises, foi levada a agir apenas depois de ver a iniciativa escapar das suas mãos.

O episódio revela um ponto sensível. Quando o setor produtivo precisa substituir o Estado na defesa dos interesses comerciais do país, é sinal de que algo se perdeu no caminho. A diplomacia deve ser a primeira linha de ação, não a última. O Brasil sempre teve prestígio internacional por sua postura de equilíbrio e diálogo. Não é razoável abdicar dessa herança por vaidade política ou cálculo eleitoral.

A recente reaproximação entre os governos é bem-vinda, mas o tempo perdido não se recupera facilmente. O tarifaço ainda pesa sobre parte das exportações e o país precisa de uma política externa que una competência técnica, agilidade e propósito. A lição que fica é simples: a diplomacia faliu, como tantos outras empresas publicas tem quebrado.





Source link

Previous Article

Como funciona o sistema antimísseis com IA usado contra o Irã

Next Article

O que vem aí no turismo capixaba: inovação e novas rotas

Write a Comment

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Subscribe to our Newsletter

Subscribe to our email newsletter to get the latest posts delivered right to your email.
Pure inspiration, zero spam ✨